Crônica
Por Karina Norback
Ah! Meus oito anos!!!
Que saudades daquela época! Daquele tempo que não volta mais.
Meu Deus! Como era bom quando chegava à tardezinha e eu saia de casa em casa convidando os amigos pra jogar bola na rua. Não havia preconceitos, eram meninos e meninas, tudo junto mesmo.
Minha cidade era ainda bem pequena e a rua de minha casa era bem deserta, quase sem movimento e a gente podia brincar sem medo dos carros ou outros perigos e durante as brincadeiras, prestigiávamos o voo rasante das araras e periquitos que cantarolavam ao entardecer e assistíamos a solene marcha dos cavalos guiados por seus condutores. Antes mesmo de amanhecer, já ficava esperando pela tarde, ansiosa pelas novas brincadeiras. Chegava da escola e ia correndo brincar, saltitando de felicidade. Minhas brincadeiras preferidas eram: queimada, pega-pega e elefante colorido, dentre outras que já não existem mais. Como era bom! Que dias gloriosos e horas preciosas!
Enquanto a criançada brincava, os pais também se reuniam em frente a casa de uma das crianças e aproveitavam para conversar enquanto davam uma “olhadinha” nos filhos. Detalhe, essa reunião familiar era revezada de maneira que a cada dia um visitava o outro. Aquilo sim era qualidade de vida, as pessoas tinham tempo para jogar conversa fora.
Mas, o tempo foi passando e eu crescendo e assistindo atônita ao progresso de minha cidade que crescia assustadoramente e de repente, fomos perdendo de vista os pássaros, os carros foram tomando o lugar dos carroceiros e com isso, as ruas ficaram movimentadas e os pais diziam que era perigoso brincar na rua, já não autorizavam mais, também, a gente não queria mesmo, acho que era porque estávamos crescendo também.
Enquanto Tangará da Serra ia se apresentando de cara nova, alguns amigos iam se mudando e aos poucos fomos perdendo contato, outros, fizeram novas amizades e hoje, raras vezes, os que ficaram se veem, pois agora não temos mais tempo para brincadeiras, os tempos mudaram e nós crescemos e as responsabilidades aumentaram, virou tudo uma chatice e podemos perceber que as crianças de 8 anos não brincam mais como brincávamos, são sedentárias e acreditam que um computador é divertido, é uma pena que não usufruíram e nem usufruirão das delícias que vivemos.
Agora, chego em casa cansada de fazer nada, durmo tarde e acordo cedo e passo a maior parte do tempo sozinha, mas, no fundo eu gosto! É o jeito aceitar. Resta-me lembrar do tempo em que tinha oito anos e ficar feliz com o crescimento e progresso de minha bela cidade e dizer que ainda tenho o privilégio de ver pelo menos um bando de periquitos emitindo sons em pleno centro da cidade, e com tristeza dizer que em nome do desmatamento e queimadas, os tangarás que deu origem ao nome da minha querida cidade já não existem mais.
Karina, menina fantástica!! Com postura acadêmica, apresenta trabalhos e executa trabalhos como uma universitária de primeira. Parabéns por tudo!!
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